O câncer de mama na visão da Constelação Sistêmica

A primeira morada de um ser humano é a sua mãe. Ali dentro, durante alguns meses, alguém começa a se entender como gente. O alimento, o calor, a segurança, a proteção, a vida se impõe. Para todos nós, esse primeiro relacionamento vai acontecendo com altos e baixos, dificuldades e aprendizados, prazer e dor. Sim, a relação com a mãe é a 1ª a nos ferirmos. Acontecimentos, indisponibilidades, limites, faltas, a maneira como se dá essa relação nos causam marcas profundas, que entendemos como feridas, e vamos reprimindo as emoções existentes dessa relação. E assim, vamos crescendo e formando a nossa personalidade. A mulher tem a mãe como a sua 1ª referência de feminino, então, diante dessas feridas, a sua feminilidade vai sendo marcada. Para se proteger da dor, a sua defesa inconsciente é julgar, criticar, desvalorizar, menosprezar a mãe, com uma atitude arrogante. E assim, passa a vida com a dificuldade de aceitar sua mãe como ela é e como ela pôde ser quando se tornou mãe. Além disso, todos nós temos a capacidade inconsciente de absorvermos a memória sistêmica da nossa família. A biologia já comprovou isso e nomeou essa teoria de Campo Mórfico. Muitas vezes, nós repetimos, sem saber, as histórias difíceis dos nossos ancestrais (pais, avós, tios, bisavós e outros), independente de conhecermos ou não. 

Bert Hellinger, criador das Constelações, pôde constatar que o câncer pode ser resultado dessas feridas infantis e/ou dos emaranhamentos sistêmicos. Ele observou que os dramas familiares emaranhados nos descendentes são co-responsáveis pelo desenvolvimento do câncer. De maneira invisível, as mulheres se sentem responsáveis pelos ancestrais e aí desenvolvem o câncer para salvá-los. Ou seja, a doença representa pessoas excluídas ou acontecimentos nefastos. A doença é o custo físico e emocional da mulher para ficar obediente (de maneira inconsciente) ao seu sistema, porque a culpa (também inconsciente, muitas vezes) de não repetir a mesma história ou de fazer escolhas diferentes é grande. Outra dinâmica por trás do câncer de mama é que essas mulheres tendem a uma facilidade maior em dar exageradamente nos seus relacionamentos e se recusam a receber, não vivendo um fluxo harmonioso de troca. Através das Constelações, é possível identificar que elas recusam-se a receber ativamente a própria mãe, com tudo. Por isso, que é muito comum mulheres que se descobrem com câncer de mama, revisarem sua vida e perceberem que não há sentido em viver, porque elas não estão vivendo a própria vida, de acordo com a sua essência. Essa dinâmica é oculta e inconsciente, não é por escolha racional. A autocura está em tomar sua mãe no seu coração (sem condição nenhuma) e fazer uma reverência profunda, honrando a vida que veio dela e incluir no coração algo ou alguém que foi excluído. Para sobreviver ao câncer, é preciso se distanciar emocionalmente da família, abandonando essa simbiose; encarar a solidão e decidir pela vida, agradecendo ao câncer, honrando e se liberando. Assim o sofrimento acaba, a culpa se transforma em responsabilidade e a força é deslocada em direção à vida. Não significa que isso seja fácil de fazer, principalmente quando há feridas, mas é possível sim, quando há uma disponibilidade interna para a transformação, utilizando-se da ajuda da Psicoterapia e da Constelação. Para concluir, é preciso dizer que a força está na realidade do momento presente. Olhar, reconhecer e soltar para seguir adiante, porque a expansão acontece quando soltamos e a paz vem da aceitação.

por Psic. Sabrina Costa Figueira – CRP03/3282